
A comoção diante da morte brutal do vigilante Raimundo de Assis Souza Filho, assassinado ao tentar defender seu local de trabalho, é legítima e necessária. No entanto, em meio a essa tragédia, precisamos ter responsabilidade ao analisar as causas da violência e não cair na tentação de discursos fáceis, que apenas distanciam a sociedade das forças de segurança pública.
Recentemente, um artigo em um jornal local atribuiu, de forma leviana e generalizada, a culpa pela insegurança às próprias forças policiais, insinuando, rasamente, uma suposta cumplicidade entre instituições de segurança e o crime organizado. Essa narrativa, para além de simplista, é extremamente perigosa.
Para começar, é preciso ter em mente que a violência urbana é um fenômeno complexo, profundamente enraizado em fatores sociais, econômicos e políticos, como a desigualdade social, o acesso precário à educação, o desemprego, a ausência de políticas públicas eficazes e o fortalecimento das organizações criminosas em comunidades carentes. Ignorar essa complexidade para culpar exclusivamente as polícias não é apenas intelectualmente desonesto, mas uma irresponsabilidade e um desserviço à sociedade.
No caso específico do assassinato do vigilante Raimundo, o escritor sugeriu, de forma alarmista, que “instituições que deveriam ser sinônimo de proteção muitas vezes se veem comprometidas por laços com o crime organizado”. Mas qual é, de fato, a relação entre esse crime — cometido por ladrões em busca de armas — e uma suposta corrupção sistêmica das forças de segurança? Nenhuma. O vigilante foi morto por criminosos, ponto. Transformar sua tragédia em munição para ataques genéricos contra as instituições é, no mínimo, um grave desvio da realidade.
É inegável que existem casos isolados de corrupção em qualquer organização — inclusive nas polícias, como bem demonstram estudos clássicos de Max Weber e análises contemporâneas sobre desvios em serviços públicos. Mas tomar a exceção como regra é um desserviço à verdade e uma afronta aos milhares de profissionais que cumprem seu dever com integridade.
Pior ainda: esse tipo de retórica alimenta uma narrativa de desconfiança que só beneficia quem lucra com o caos. Como alertou Norberto Bobbio, a degradação da confiança nas instituições é o primeiro passo para o colapso da democracia. Se queremos uma sociedade mais segura, o caminho não é demonizar as forças de segurança, mas cobrar aprimoramentos técnicos, apoiar os bons profissionais e exigir políticas públicas que ataquem as raízes da criminalidade.
A morte de Raimundo deve servir como um chamado a uma reflexão mais profunda. A violência que vitima trabalhadores não se resolve com discursos fáceis ou busca por bodes expiatórios. Ela se combate com políticas públicas sérias, investimentos em educação, oportunidades reais de inserção social, e sim, com o fortalecimento contínuo e ético das forças de segurança.
O que a sociedade precisa não são de narrativas que dividam ainda mais um tecido social já tão fragilizado. Precisa de responsabilidade, profundidade analítica e compromisso coletivo com a justiça e a segurança de todos.
Por Joabes Guedes